RICHARD FRANCIS BURTON
Explorador e diplomata inglês: 1821-1890. Obra: Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho (1867). Esteve em São João del-Rei em 1867.
Crítica: "Nada escapa à pena do observador perspicaz e minucioso" (Vivaldi Moreira). Agente do imperialismo inglês da era vitoriana, mostra-se um observador atento a todas os detalhes, mas irônico e mordaz contra tudo ao que foge ao exigente gosto inglês.
Era sábado, dia dos mendigos, de acordo com velho costume do Brasil. Nós éramos estrangeiros e, portanto, boa presa. A Praia estava repleta de aleijados de todos os gêneros e alguns usavam a "indumentária adequada" da semana. Jamais eu vira tanto mendigo em tão pouco espaço. Estava comigo uma pessoa que ainda acredita na caridade e nas lendas medievais acerca das esmolas e, mesmo na hospitalidade concedida, sem o saber, a pessoas de ordem elevada no Reino Espiritual: um daqueles desgraçados poderia ser São José ou algo mais alto. Todos, portanto, receberam moedas de cobre, e os resultados foram a gloriosa reunião do Clã dos Esfarrapados, o gasto de todo o dinheiro trocado, o não aparecimento de São José e o freqüente aparecimento de "Santa Impudência (Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Trad. de David Jardim Júnior. Belo Horizonte: Itatiaia e São Paulo: Edusp, 1976. p. 129).
Texto retirado do livro "Santos Negros e Estrangeiros" de Antônio Gaio Sobrinho.