Com o crescimento dos arraiais, alguns poucos elevados a condição de vila, as capelas se multiplicavam; oratórios, atendendo as preferências devocionais, eram instalados; e igrejas eram construídas, muitas das vezes, já com preocupações de segurança e mesmo com requintes de suntuosidade. As irmandades religiosas eram criadas refletindo o escalonamento das várias classes comunitárias, disputando privilégios e destaques dentro de uma sociedade discriminatória que partia de uma base de deserdados da sorte, a maioria escravos negros e mestiços de várias origens raciais, e terminava nas classes dominantes formadas pelos ricos mineradores, comerciantes, proprietários rurais, arrecadadores de impostos, militares graduados, clero e representantes da Coroa Portuguesa.
Não se tem notícia de nenhuma capela no primeiro núcleo de povoamento desta região do Rio das Mortes, fixado por Tomé Portes del-Rei a beira do caminho, na margem esquerda do rio, no local conhecido como Porto da Passagem. Dessa ausência de informação não se pode concluir pela sua inexistência. 0 fato é que os dados sobre Tomé Portes e seu estabelecimento são escassos e os existentes, mal detalhados. Considerando-se os costumes da época, é quase certo ter havido uma capela no local, por mais simples, acanhada ou rústica que fosse. Soma-se a essa observação um registro contemporâneo da existência de um padre na região, quando da descoberta do ouro no posteriormente denominando Morro das Mercês (cerca de 1705): "[...] o primeiro que nele se pôs a faiscar foi um Fr. Pedro do Rosário, da Ordem de S. Paulo" (Matol apud Taunay, 1981, p. 177). É razoável supor que, se havia padre, deveria haver missa...
GUIMARÃES, Geraldo. São João del-Rei - Século XVIII - História sumária. 1996, pág. 51, 52.